O Núcleo de Educação de Jovens e Adultos possui uma metodologia um pouco diferente das escolas de Ensino Fundamental da Rede Municipal de Florianópolis. O texto abaixo faz parte do planejamento da coordenadora da Sala Informatizada (Fernanda Lino) e explica um pouco como é a proposta de trabalho do Núcleo da EJA de Florianópolis.
O Núcleo Central da Educação de Jovens e Adultos/as, mantido pela Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis - Divisão de Educação Continuada, situado na rua Ferreira Lima, Nº 82, Centro, oferece dois segmentos de curso de Educação de Jovens e Adultos, sendo o primeiro correspondente ao Curso de Alfabetização de Jovens e Adultos (1ª a 4ª série), e o segundo ao Ensino Fundamental (5ª a 8ª série). O Núcleo, que foi inaugurado em 2004, atende alunos/as a partir de quinze anos de idade e a carga horária anual do curso é de 800 horas-aula, sendo 75% em caráter presencial e 25% em caráter não-presencial.
O curso de Educação de Jovens e Adultos/as é planejado e estruturado através de pesquisas em grupos de poucos/as alunos/as, ou seja, a pesquisa é o princípio educativo, muito diferente do que existe nas escolas de Ensino Fundamental, que são estruturadas de acordo com currículos e disciplinas. Na proposta da EJA, o processo da pesquisa inicia a partir dos interesses dos estudantes com a formulação de perguntas/problemáticas, que estão ligadas a suas necessidades e curiosidades.
Essa metodologia de trabalho contribui para o desenvolvimento, nos estudantes, de habilidades e capacidades necessárias ao mundo atual e as suas relações sociais. O professor desenvolve sua prática docente como orientador, intervindo nas pesquisas, contribuindo com o esclarecimento de conceitos e assessorando diariamente os estudantes nas variadas atividades escolares que necessitam realizar. Por issso, o corpo docente é formado por profissionais das diversas áreas do conhecimento relacionadas ao ensino fundamental.
De acordo com José Manoel, diretor do Departamento de Educação Continuada (p.51), foi escolhida a pesquisa por problemáticas que partem dos interesses e necessidades dos/as alunos/as do EJA, (e não a partir do/a professor/a, do sistema ou do mercado) em função do respeito, da busca por um maior significado na aprendizagem, e pelo conhecimento não ser tratado de forma fragmentado, descontextualizado e arbóreo, mas sim como um rizoma, gerando movimentos e relações do/a aluno/a com o questionar a vida e o mundo, contribuindo assim para a aprendizagem, a conscientização crítica, o aumento da auto-estima e provocando, portanto, a participação cidadã do/a aluno/a na sociedade.
O curso de Educação de Jovens e Adultos/as é planejado por meio de pesquisas de pequenos grupos de alunos/as. No início de cada ciclo de pesquisa em uma turma, são elaboradas as perguntas pelos/as alunos/as, que serão as motivadoras de todo o processo. Após a socialização das perguntas, os/as aluno/as, de acordo com seus interesses, se agrupam em equipes de no máximo quatro. Nas equipes são elaboradas as justificativas, hipóteses e possíveis respostas para as perguntas. É feita então, com a turma, uma construção coletiva do planejamento geral da pesquisa, assim como um planejamento específico.
Para se organizar todo o processo de pesquisa são usados alguns instrumentos. Todos os grupos formados recebem uma pasta, que é entendida como um ‘portfólio’, pois deverá conter todas as produções realizadas pelos grupos assim como textos e materiais estudados. Nesta pasta também há um caderno de assessoramento de pesquisa, no qual professores/as e alunos/as organizam e registram as atividades e planejamentos, para um melhor acompanhamento. Os/as alunos/as também recebem um caderno que se torna seu diário individual utilizado para registrar o que desejar: dúvidas, ansiedades, expectativas, conquistas, avanços, sugestões, enfim, o caderno do aluno é um espaço muito importante, pois é um instrumento poderoso de avaliação processual e permanente. Cotidianamente os professores realizam leituras e escrevem comentários nos cadernos de diário dos estudantes, nesse sentido os cadernos são considerados um espaço de comunicação entre os sujeitos envolvidos no processo escolar (professores, estudantes, coordenação).
Ao se trabalhar com pesquisa como princípio educativo no EJA, o/a educando/a tem oportunidade de formular questões que tenham como origem a curiosidade, a vontade de saber sobre determinado assunto ou algo que lhe interessa muito, para, a partir dessas questões, vivenciar novas formas de conhecimento. Acredita-se que dentro desta perspectiva de trabalho existe uma certa liberdade que faz com que os/as alunos/as se sintam desafiados a explorar questões instigantes e atraentes para eles/as, e possam construir seus conhecimentos a partir de diversas interações, favorecendo sua autonomia.
Neste processo educativo, o papel do/a professor é fundamental. Além de orientar, refletir junto e mediar, e não apenas transmitir o conhecimento, os/as professores/as desafiam constantemente os/as alunos/as para a descoberta de novas e interessantes questões a serem pesquisadas e descobertas, e a sala de aula e demais ambientes do núcleo tornam-se espaços abertos de explorações e interações, sendo ao mesmo tempo acolhedores e desafiadores. E embora os projetos de pesquisa partam da busca de soluções de questões (problemáticas) feitas pelo/a educando/a, elas naturalmente levam até a sistematização e formalização dos conhecimentos socialmente produzidos.
A Avaliação na EJA
A avaliação dos/as alunos/as no Núcleo de Educação de Jovens e Adultos/as é feita por meio da análise dos trabalhos apresentados nos diários individuais, nos portfólios individuais, nos cadernos pessoais, nos cadernos de assessoramento das pesquisas, nos cadernos de turma, nas produções textuais das aulas e dos projetos, nas socializações parciais e finais dos trabalhos, nos pareceres descritivos do conselho de classe, nas auto-avaliações, nas atas das assembléias deliberativas, reuniões e encontros pedagógicos, durante os assessoramentos dos/as professores/as nos pequenos grupos de pesquisa e em outros diversos momentos e com outros instrumentos de avaliação criados conforme os interesses e necessidades.
A avaliação tem como objetivo verificar a aprendizagem e desenvolvimento do/a educando/a. O núcleo acredita que a avaliação deve ser uma ação mediadora do processo de construção do conhecimento, e como esta ação é considerada um meio e não um fim em si, ela é constante, diária, e em todos os momentos. O ‘peso’ recai sobre os aspectos qualitativos e não somente nos aspectos quantitativos da aprendizagem. Este tipo de avaliação permite que o/a educador/a repense sua prática a cada dia, assim como o/a aluno/a também. Por isso a Sala Informatizada utiliza esse padrão avaliativo, para que todo trabalho realizado seja coerente com os objetivos e a metodologia do núcleo.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Fundamentação e Prática na EJA. Departamento de Educação Continuada 2007.